Onde você estava no dia em que Michael Jackson morreu? Em 25 de junho de 2009 eu estava trabalhando em casa no computador – e, inevitavelmente, conferindo de vez em quando o que rolava no Twitter. A primeira menção ao acontecido usava bem menos do que os 140 caracteres disponíveis. Corri para ligar a televisão – ato-reflexo de um quase-cinquentão – e contei no relógio os quarenta e cinco minutos que a CNN levou para confirmar a morte do Rei do Pop. Até então, tudo ainda eram “rumores não confirmados”. A fonte dos rumores? Um site de fofocas de Los Angeles, o TMZ.com. Eu nunca tinha ouvido falar antes dele antes, e nem cheguei a entrar no site depois desse dia fatídico. Mas acompanhei, de longe, a consolidação do TMZ como fonte quentíssima sobre quizumbas, mazelas, infortúnios e boletins de ocorrência envolvendo celebridades de todos os quilates.
Corta para pouco menos de dois anos depois. Desta vez estou em Los Angeles. E me passa pela cabeça testar um desses tours que percorrem as mansões das estrelas. Um pouco por diversão, mas também um tanto pela oportunidade de fazer fotos em Beverly Hills do alto de uma van conversível. Entro no site da maior agência que faz esses passeios, a Starline, e então deparo com a novidade: um tour de Hollywood criado e apresentado pelo pessoal do TMZ, com doses extras de intriga, veneno e sensacionalismo. Pesquisando no TMZ, descubro que o tour é novíssimo: a primeira saída foi agorinha há pouco em 14 de maio. Não tenh
Pegadas da fama. No sábado em que queria ir, só havia lugares disponíveis no primeiro tour. Às nove da manhã, conforme as instruções, deixo meu carro no estacionamento de um shopping do Hollywood Boulevard (US$ 2 validando o ticket com a Starline) e me dirijo à Calçada da Fama. É ali, ao lado das mãos e pés imortalizados dos astros, que fica o guichê da Starline, uma empresa quase tão antiga quanto Hollywood: desde 1935 não deixa os artistas em paz. Troco o meu voucher pela passagem e pouco depois sou levado junto com o meu grupo até um estacionamento nos fundos do prédio, de onde partem ônibus e vans de todos os tamanhos da Starline para os mais variados tours. Para o nosso passeio, porém, embarcamos num micro-ônibus adaptado e cheio de chinfra, com janelas panorâmicas, vídeo e o logotipo escandaloso do TMZ. “Segredos e points das celebridades”, diz o letreiro pintado na lateral do bumba.
Somos recebidos por Keith, um loirinho de olhos azuis que tem carisma e timing de apresentador de TV. Nas duas horas seguintes ele vai ser não apenas o narrador mas também o operador de vídeo do passeio, apertando o “play” para rolar micromatérias do TMZ que vão, digamos, dar profundidade aos importantíssimos fatos (brigas, batidas, barracos, imbroglios e quiprocós) revelados no decorrer do tour. Antes de começar, Keith nos mostra uma câmera capaz de fazer upload de vídeo na internet. Caso o ônibus passe por alguma celebridade, Keith irá atrás dela, e o resultado do esforço (uma entrevista, um tchauzinho ou um palavrão acompanhado de um dedo médio em riste) será imediatamente publicado no site.
Celebridades e subs. A grande sacada do tour é justamente atualizar a definição de estrela: hoje a era é das celebridades, que têm brilho mais escasso e fugaz, mas em compensação são mais divertidas de acompanhar. Algumas subcelebridades são inteiramente fabricadas pelos veículos de fofoca; durante o passeio, Keith vai pedir desculpas em nome do TMZ pela fabricação de duas ou três delas. No fundo, o TMZ é um site de humor que usa as celebridades como personagens de piadas que elas mesmas fabricam. O tour segue exatamente a mesma linha – é como navegar pelo site usando um ônibus no lugar do mouse. Os pontos de interesse – por exemplo: a Hustler, a sex shop frequentada pelos famosos; ou o hotel Four Seasons, onde o namorado de Paris Hilton gravou vídeo pornô que vazou para a internet – funcionam como hipertexto: o motorista para e Keith engata um vídeo em que a história é explicada à maneira do TMZ.
Dá para imaginar fácil um tour assim no Rio de Janeiro. Esta é a Pizzaria Guanabara, a preferida de Luana Piovani. Dado Dolabella está proibido por lei de ficar a menos de 300 metros quando ela estiver aqui (rola o vídeo). E aqui chegamos ao ponto em que Aécio Neves foi parado pela fiscalização da Lei Seca e se recusou a fazer o teste do bafômetro (e rola o vídeo). Pensando bem, seria ainda mais divertido do que o tour da TMZ – porque, mesmo quando você sabe inglês suficiente para entender as piadas, dificilmente vai conhecer todas as subcelebridades do elenco. Ainda assim, o passeio vale a pena.
City tour hilário. O itinerário não inclui nenhum ziguezague pelas ruas ladeadas de palmeiras de Beverly Hills. Em compensação, cobre toda a área mais interessante da cidade – que o turista costuma abandonar tão logo deu por visto o Hollywood Boulevard e o bairro das mansões. É um erro: a Los Angeles que importa fica entre Hollywood, o centro da cidade e West Hollywood. Sob a desculpa de mostrar os lugares famosos e infames frequentados pelas celebridades, o tour do TMZ acaba revelando o melhor de Los Angeles para o forasteiro. Além de saber onde Tiger Woods fechou um acordo de 10 milhões de dólares para uma de suas amantes calar o bico, você volta para o hotel sabendo qual é a melhor rede de fast food de L.A. (a In & Out), a rua de comércio mais bacana (a North Robertson Boulevard), a avenida mais quente da cidade (a Melrose) e onde ir nas noites insanas da Sunset Strip. Apenas tome o cuidado de dar um certo desconto aos exageros. Quando passamos pela Osteria Mozza, restaurante ultrabadaladinho na Melrose, Keith disse que para conseguir jantar ali era preciso reservar com duas semanas de antecedência. Eu tinha jantado lá na antevéspera, tendo reservado no mesmo dia.
Durante o passeio os passageiros podem ganhar camisetas do TMZ, respondendo ao quiz “Tchauzinho ou dedo em riste?” O vídeo mostra uma celebridade flagrada ou perseguida pelo site exatamente naquele ponto em que estamos passando. A cena congela. O passageiro precisa adivinhar se o papparazo vai ganhar um olá ou um gesto obsceno. Na minha vez foram três tchauzinhos e só um vai-te-catar. Ah, sim: contrariando nossas expectativas, nenhuma celebridade de carne e osso foi avistada nas ruas. Pensando bem, precisa ser muito subcelebridade para aparecer numa calçada de Los Angeles antes do meio-dia…
As saídas do TMZ Hollywood Tour são diárias, às 9h30, 12h30 e 15h30. Os bilhetes custam US$ 55 (adultos) e US$ 45 (crianças) e devem ser comprados com alguns dias de antecedência no site stalinetours.com.
Onde você estava no dia em que Michael Jackson morreu? Em 25 de junho de 2009 eu estava trabalhando em casa no computador – e, inevitavelmente, conferindo de vez em quando o que rolava no Twitter. A primeira menção ao acontecido usava bem menos do que os 140 caracteres disponíveis. Corri para ligar a televisão – ato-reflexo de um quase-cinquentão – e contei no relógio os quarenta e cinco minutos que a CNN levou para confirmar a morte do Rei do Pop. Até então, tudo ainda eram “rumores não confirmados”. A fonte dos rumores? Um site de fofocas de Los Angeles, o
TMZ.com. Eu nunca tinha ouvido falar antes dele antes, e nem cheguei a entrar no site depois desse dia fatídico. Mas acompanhei, de longe, a consolidação do TMZ como fonte quentíssima sobre quizumbas, mazelas, infortúnios e boletins de ocorrência envolvendo celebridades de todos os quilates.
Corta para pouco menos de dois anos depois. Desta vez estou em Los Angeles. E me passa pela cabeça testar um desses tours que percorrem as mansões das estrelas. Um pouco por diversão, mas também um tanto pela oportunidade de fazer fotos em Beverly Hills do alto de uma van conversível. Entro no site da maior agência que faz esses passeios, a
Starline, e então deparo com a novidade: um tour de Hollywood criado e apresentado pelo pessoal do TMZ, com doses extras de intriga, veneno e sensacionalismo. Pesquisando no TMZ, descubro que o tour é novíssimo: a primeira saída foi agorinha há pouco em 14 de maio. Não tenho dúvidas. É com esse que eu vou!
Originalmente publicado na minha página Turista Profissional
, que sai toda terça no Estadão.
Nas pegadas da fama
No sábado em que queria ir, só havia lugares disponíveis no primeiro tour. Às nove da manhã, conforme as instruções, deixo meu carro no estacionamento de um shopping do Hollywood Boulevard (US$ 2 validando o ticket com a Starline) e me dirijo à Calçada da Fama. É ali, ao lado das mãos e pés imortalizados dos astros, que fica o guichê da Starline, uma empresa quase tão antiga quanto Hollywood: desde 1935 não deixa os artistas em paz. Troco o meu voucher pela passagem e pouco depois sou levado junto com o meu grupo até um estacionamento nos fundos do prédio, de onde partem ônibus e vans de todos os tamanhos da Starline para os mais variados tours. Para o nosso passeio, porém, embarcamos num microônibus adaptado e cheio de chinfra, com janelas panorâmicas, vídeo e o logotipo escandaloso do TMZ. “Segredos e points das celebridades”, diz o letreiro pintado na lateral do bumba.
Somos recebidos por Keith, um loirinho de olhos azuis que tem carisma e timing de apresentador de TV. Nas duas horas seguintes ele vai ser não apenas o narrador mas também o operador de vídeo do passeio, apertando o “play” para rolar micromatérias do TMZ que vão, digamos, dar profundidade aos importantíssimos fatos (brigas, batidas, barracos, imbroglios e qüiprocós) revelados no decorrer do tour. Antes de começar, Keith nos mostra uma câmera capaz de fazer upload de vídeo na internet. Caso o ônibus passe por alguma celebridade, Keith irá atrás dela, e o resultado do esforço (uma entrevista, um tchauzinho ou um palavrão acompanhado de um dedo médio em riste) será imediatamente publicado no site.
Celebridades e subs
A grande sacada do tour é justamente atualizar a definição de estrela: hoje a era é das celebridades, que têm brilho mais escasso e fugaz, mas em compensação são mais divertidas de acompanhar. Algumas subcelebridades são inteiramente fabricadas pelos veículos de fofoca; durante o passeio, Keith vai pedir desculpas em nome do TMZ pela fabricação de duas ou três delas. No fundo, o TMZ é um site de humor que usa as celebridades como personagens de piadas que elas mesmas fabricam. O tour segue exatamente a mesma linha – é como navegar pelo site usando um ônibus no lugar do mouse. Os pontos de interesse – por exemplo: a Hustler, a sex shop frequentada pelos famosos; ou o hotel Four Seasons, onde o namorado de Paris Hilton gravou vídeo pornô que vazou para a internet – funcionam como hipertexto: o motorista para e Keith engata um vídeo em que a história é explicada à maneira do TMZ.
Dá para imaginar fácil um tour assim no Rio de Janeiro. Esta é a Pizzaria Guanabara, a preferida de Luana Piovani. Dado Dolabella está proibido por lei de ficar a menos de 300 metros quando ela estiver aqui (rola o vídeo). E aqui chegamos ao ponto em que Aécio Neves foi parado pela fiscalização da Lei Seca e se recusou a fazer o teste do bafômetro (e rola o vídeo). Pensando bem, um tour no Rio seria ainda mais divertido do que o tour da TMZ – porque, mesmo quando você sabe inglês suficiente para entender as piadas, dificilmente vai conhecer todas as subcelebridades do elenco. Ainda assim, o passeio vale a pena.
City tour hilário
O itinerário não inclui nenhum ziguezague pelas ruas ladeadas de palmeiras de Beverly Hills. Em compensação, cobre toda a área mais interessante da cidade – que o turista costuma abandonar tão logo deu por visto o Hollywood Boulevard e o bairro das mansões. É um erro: a Los Angeles que importa fica entre Hollywood, o centro da cidade e West Hollywood. Sob a desculpa de mostrar os lugares famosos e infames frequentados pelas celebridades, o tour do TMZ acaba revelando o melhor de Los Angeles para o forasteiro. Além de saber onde Tiger Woods fechou um acordo de 10 milhões de dólares para uma de suas amantes calar o bico, você volta para o hotel sabendo qual é a melhor rede de fast food de L.A. (a
In-n-Out), a rua de comércio mais bacana (a North Robertson Boulevard), a avenida mais quente da cidade (a Melrose) e onde ir nas noites insanas da Sunset Strip. Apenas dê desconto aos exageros. Quando passamos pela
Osteria Mozza, restaurante ultrabadaladinho na Melrose, Keith disse que para conseguir jantar ali era preciso reservar com duas semanas de antecedência. Eu tinha jantado lá na antevéspera, tendo reservado no mesmo dia.
Durante o passeio os passageiros podem ganhar camisetas do TMZ, respondendo ao quiz “Tchauzinho ou dedo em riste?” O vídeo mostra uma celebridade flagrada ou perseguida pelo site exatamente naquele ponto em que estamos passando. A cena congela. O passageiro precisa adivinhar se o papparazo vai ganhar um olá ou um gesto obsceno. Na minha vez foram três tchauzinhos e só um vai-te-catar. Ah, sim: contrariando nossas expectativas, nenhuma celebridade de carne e osso foi avistada nas ruas. Pensando bem, precisa ser muito subcelebridade para aparecer numa calçada de Los Angeles antes do meio-dia…
As saídas do TMZ Hollywood Tour são diárias, às 9h30, 12h30 e 15h30. Os bilhetes custam US$ 55 (adultos) e US$ 45 (crianças) e devem ser comprados com alguns dias de antecedência no
site.
Fonte: http://www.viajenaviagem.com/2011/06/los-angeles-o-tour-fofoqueiro-por-hollywood-com-a-tmz-com/